domingo, 11 de maio de 2008

Relato da repressão à "Marcha pela Democracia" em João Pessoas.



Devido à proibição da Marcha da Maconha na Paraíba, os manifestantes decidiram realizar a Marcha pela Democracia, mas mesmo assim a policia provocou, reprimiu e torturou, jogando no lixo a Constituição Federal Brasileira, que fala sobre a livre a manifestação pública segundo seu artigo quinto.. leia o relato e veremos que a distancia entre a realidade de hoje e a de 30 anos atrás, não é muito grande. E cadê a OEA que não se manifesta sobre isso ? A OEA só aparece quando é para criticar o regime cubano e perseguir governos populares de esquerda latino-americanos.


Depoimento
meu nome é Fábio, sou cidadão paraibano com RG, CPF e Título de Eleitor em dia.
Sou estudante universitário e trabalho.

domingo, 4 de maio de 2008

14h - Inicia-se no Busto de Tamandaré um ato público pela democracia e contra a repressão, onde diversas pessoas vão chegando com faixas e cartazes com frases como: abaixo a ditadura, pela liberdade de expressão, democracia não é mercadoria, abaixo ás autoridades corrupitas, sou cidadão e exijo meu direito, respeitem o artigo quinto da constituição,libertem as plantas...
15:30 - Chega o carro de som, e as pessoas começam a se manifestar. Mas logo os guardas da STTRANS diz que recebeu a ordem para que o carro de som saísse do Busto de Tamandaré.
Então resolvemos sair em passeata pela orla. Jovens, idosos, adultos e crianças acompanham o som segurando cartazes, com apitos, fogos e gritos de ordem.
Pacificamente e discontraidos seguem os manifestantes, até que por volta das 16:30h divesos policiais e amarelinhos se aproximam do som, solicitando a carteira de motorista do condutor do minitrio, o qual demora uns 10 minutos para encontra-la no meio de alguns CDs. Em seguida verificam o instintor... tudo ok. Mas logo vem a ordem, não pode mais ligar o som. Me direcionei ao policial responsável, acho que era tenente, e ele me disse que não poderiamos seguir com o som. Argumentei do pq, pois a SEMAS havia autorizado, e a procuradoria do MP havia dito que a marcha de democracia podia acontecer por tanto que não se falasse em legalização da maconha.O policial me respondeu:´não quero saber se a SEMAs autorizou, o Coronel ligou dizendo que a ordem é de desligar o som. Perguntei de quem partiu a ordem e solicitei um documento desse ordem. Ele repondeu: Não tem documento, e desligue. Percebí o que estava acontecendo, e para continuar dentro da "lei", desligamos o som.
Fizemos uma roda em volta do minitrio e cantamos algumas canções e cirandas. Logo a polícia faz um cerco em volta do som para ninguem chegar perto, e um rapaz pede aos políciais para pegar suas coisas que ficaram em cima do minitrio...pedido negado!Quando o minitrio vai ser levado o manifestante deita na frente pedindo para retirar seus objetos, e rapidamente é arrastado por alguns policiais. Ao tentar voltar para impedir de o minitrio ir embora o manifestante é agredido pela polícia onde sua carteira e óculos se perdem no meio dos policiais. Ao ver o óculos um policial pisa em cima. A carteira não mais é encontrada, fazendo com que esse manifestante indignado dê voltas em torno da polícia proucurando sua carteira exijindo que achem. Logo tentam mobiliza-lo e o povo o resgata. Começamos a nos organizar para sair em passeata novamente mesmo sem som, mas logo o tenente me "esclarece" dizendo que a manifestação não pode seguir, pois recebeu ordens.
De repente dezenas de policiais montados em cavalos aparecem com seus cacetetes levantados, mais algumas dezenas de viaturas ocupam a avenida. Os cavalos começam a avançar em direção aos manifestantes que começam a cantar:

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
...

o Hino Nacional Brasileiro é cantado fortemente e com amor pelos estudantes e trabalhadores se espalhando o eco para as pessoas que assistiam dos prédios, dos bares e calçadas. Emocionante e bravamente finaliza o hino nacional, e em seguida TUMULTO..os cavalos avançam para cima dos manifestantes com agressões, e os mesmo coagidos por "pura repressão", sem entender do por quê e qual motivo estavam sendo reprimidos. quando a polícia começa mobilizar alguns estudantes que são levados violentamente para as viaturas, e a partir disso o povo avançam para resgatar alguns companheiros que nada fizeram para seram presos, e começa uma enorme pancadaria nos manifestantes, com espreis de pimenta, gás de efeito moral, tiros com balas de borracha...um policial perdi o controle do cavalo que se agita em cima dos manifestantes derrubando o policial de cara no chão, e em seguida é atropelado por outro cavalo(o policial declarou para a mídia que levou uma pedrada).
Logo diversos policiais montados em seus cavalos avançam em direção as pessoas que se encontravam nas calçadas e bares, e a repressão é ainda maior, pois ví idosos e crianças correndo assustados tentando se proteger dos cavalos que atacavam. Muitos gritos, muita tristeza, muita revolta...
Dispersou-se os manifestantes, e alguns gritam chamando todos para se reunirem no busto de tamandaré e avaliar o que fazer em relação aos estudantes inocentes que foram presos após uma ação ditatorial. Percebí que diversas pessoas se encontravam do outro lado da barreira polícial que se formou na rua, e resolví voltar para chamar alguns companheiros.
Não deu muito tempo, enquanto caminhava ví um amigo(Enrique) que se direcionava ao busto e foi agredido e mobilizado por diversos policiais. Assim que me virei e resolví sair dalí recebí um "mata-leão", onde um dos policiais que estavam sem farda e ficava rindo encostado no carro, me enforcava dizendo: vou te apagar, vou te apagar...vôou fora minhas chinelas e chapeu...primeiro me aperriei, mas quando ví outros diversos policiais avançando em minhha direção, não mais tinha força enquanto era estrangulado. Falta de oxigênio e muitas porradas...tive de fingir passar mal e ter apagado antes que minha vida terminasse naquela repressão covarde. Me jogaram na mala da viatura. Assim que fecharam abrí os olhos e conhecí duas pessoas que já se encontravam na mala. Um, era soldado de cuiabá, e não teve tempo de se explicar. Outro era um rapaz que tirava fotos.
Meu celular tocou...era o Lou, companheiro da manifestaçao, me informando que tinha sido preso,e respondí: eu ví quando vc foi preso, e quando me virei tb fui detido, ou seja estou preso tb....rimos da situação.
Levados para a décima delegacia em tambaú....chegando ví que fomos a primeira viatura. Lá só se encontrava uma estudante querendo dar queixa contra uma policial que lançou esprei de pimenta direto em seu rosto que se encontrava vermelho e afetado. Logo chegou outra viatura com mais 3 pessoas, entre elas o Lou. Em seguida mais uma, com outros tres estudantes. Alguns muito feridos!
Fomos levados os 9 para uma sela, onde passei cerca de 2h. Lá nos conhecemos, fomos provocados por alguns policiais e ameaçados por um outro sem farda.

Conversando conhecemos um rapaz que não estava na marcha e contou: quando voltava do seu trabalho viu o tumulto, e parou para tirar uma foto com o celular...rapidamen te alguns policiais avançaram em cima dele com cacetetes e o celular vôou, e assim ficou perdido. Lamentamos bastante a situação dele e nossa revolta aumentou diante tanta injustiça e censura. Havia um outro, o soldado do exercito de cuiabá que estava na mesma viatura que eu, que também não participava da passeata, mas foi surpreendido quando passava.

Um a um foi sendo liberado da sela para falar com o delegado que chegou na delegacia cerca de 1:30. Mas antes alguns policiais resolveram acusar na sorte do dedo alguns de nós de terem lançado pedras. Engraçado...precisav am lascar ainda mais....sendo assim um policial acusou o outro rapaz que veio na viatura comigo. E um outro policial(reconhecí , era o policial que caiu do cavalo machucando a cara) me acusou da seguinte forma: Um policial perguntou quem é Fábio, e me apresentei, em seguida chamou o policial ferido dizendo, foi esse num foi? e o PM ferido confirmou sem nem ohar para minha cara..."caralho vai tomar no cú, que ira que eu estava, pois não peguei em merda de pedra nenhuma"... mas confiamos no nosso advogado, um grande homem, o Dr. Américo Almeida, que defendia todos que foram presos.
Fui o segundo a ser escutado pelo delegado e liberado por volta das 21h. Quando cheguei lá fora tinham umas 50 pessoas que começaram a bater palma...fiquei pasmo com o companheirismo. Logo mais um foi solto...era o cara do exército. Em seguida o delegado teve de sair por causa de uma chamada onde haviam matado alguem próximo a Mata do Amém. esse fato fez com que os outros viessem esperar a chegada do delegado por mais umas 2 ou 3 horas, e eu fiquei em frente a delegacia aguardando os companheiros de manifestação e "sela" junto com aqueles que aplaudiram.
Pensei naquele momento, e hoje depois de uma pesquisa tive certeza, que naquela noite os bandidos, assassinos, marginais... ..fizeram a festa em nossa cidade, pois toda polícia militar foi colocada para violentar o direito dos estudantes da marcha pela democracia e contra a repressão, com agressões físicas e psicologicas.
Conclusão:
o vereador Amorin falou em uma jornal, que a sociedade devia agir com violência contra a marcha.
o famoso arcebispo Dom Aldo, disse que a sociedade não podia permitir aquela "vergonha", e a marcha não podia acontecer de forma alguma.

Se tivessemos terminado a passeata como tentamos, com tranqulidade, paz, respeito, sem falar em legalização(CENSURADO ), com seriedade... seriamos vitoriosos, e a sociedade conheceria realmente o que queriamos, com gritos de ordem pedindo abaixo autoridades corrompidas, abaixo a censura contra diversos movimentos sociais... MAS ISSO NÃO IRIA ACONTECER DE JEITO NENHUM!
JÁ ESTAVA TUDO DECIDIDO!
TINHA QUE TERMINAR EM PORRADA PARA PASSAR A IMAGEM QUE SOMOS ARRUACEIROS!
PROGRAMAMOS UM FIM, MAS NÃO SABIAMOS QUE OUTRAS FORÇAS MAIORES E PODEROSAS PROGRAMARAM OUTRO FIM, SENDO COM TUMULTO.

Que país é esse?
Que sistema é esse?
Que justiça é essa?
Para onde estamos caminhando?

PELO FIM DESSA DITADURA MASCARADA!

NÃO A REPRESSÃO, EXIJO LIBERDADE DE EXPRESSÃO!


Fábio Fena
Produtor de Eventos
Estudante Concluinte de Ciências Contábeis
Militante de Movimentos Sociais

fonte: Centro de Mídia Independente

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